Nas últimas semanas uma nova rede social ganhou os holofotes dos empreendedores do ramo de tecnologia no mundo todo e se transformou no ‘queridinho’ do Vale do Silício. Criada há menos de um ano, a Clubhouse é a bola da vez. A nova rede social permite que usuários participem de salas de bate-papo públicas ou privadas, das quais só é possível a comunicação pelo envio de mensagens de voz.
O aplicativo se transformou em uma grande tendência mundial, chamando a atenção dos noticiários após figuras como Elon Musk e Mark Zuckerber aderirem a ferramenta avaliada em mais de US$ 1 bilhão.
Para se consolidar em um mercado altamente competitivo, a nova rede social ainda precisa superar uma série de desafios. No entanto, o surgimento da Clubhouse, uma plataforma digital de comunicação por voz, reforça o crescimento e a popularidade do consumo de áudio no mundo.
Com a pandemia da Covid-19 e a necessidade de isolamento social, o formato ganhou ainda mais importância. Segundo uma pesquisa feita pelo Spotify em abril de 2020, o consumo de streaming de áudio cresceu 67% durante a pandemia.
A popularização do segmento transformou o mercado da comunicação. O Spotify, uma das mais consolidadas plataformas de streaming, investiu mais de US$ 800 milhões em tecnologias para podcast e abriu um valioso espaço para a produção e disseminação de conteúdos por áudio.
Não demorou para que os grandes meios de comunicação começassem a migrar para o formato. De olho no novo mercado, o Grupo Globo anunciou em janeiro que vai investir pesado na produção de podcasts em 2021. Atualmente o gigante da comunicação brasileira produz mais de 80 programas de áudio no formato.
A versatilidade e a praticidade de consumo conquistou os brasileiros. Segundo uma pesquisa da Voxnest, o Brasil lidera o ranking de produção de podcasts em 2020. Sobre o consumo, o Ibope identificou que 50 milhões de brasileiros já ouviram podcasts e desse total, 16 milhões escutam diariamente.
Com o avanço tecnológico, a mudança dos hábitos de consumo de conteúdo na internet e a necessidade de otimização do tempo em um mundo hiperconectado, o áudio despontou como uma poderosa ferramenta de comunicação e deu início à chamada ‘era do áudio’.
“As empresas que não estiverem atentas a esta nova era podem perder uma oportunidade valiosa de estarem próximas de seus consumidores”, afirma Flávio Benetti, professor de graduação e pós-graduação em comunicação social e convidado do Sescon Campinas para falar sobre a utilização do áudio na comunicação das empresas.
Segundo Benetti, o cenário é promissor para as empresas apostarem no segmento, criando um espaço de compartilhamento de conteúdo, conversas e reflexões. “Mas é importante destacar que os áudios devem se conectar com o restante da estratégia de marketing das empresas, criando uma percepção única por parte do público”, alerta.
A evolução do mercado tecnológico e a praticidade de consumo de áudio, atraíram a atenção do mercado publicitário quanto às possibilidades de engajamento das novas ferramentas. Estima-se que somente em 2021 a receita publicitária nos Estados Unidos deve ultrapassar a marca de US$ 1 bilhão.
Mesmo sendo um mercado promissor, o professor ressalta que “antes de entrar de vez nessa nova era, os profissionais e empreendedores precisam entender se este tipo de formato faz sentido para os seus clientes”.
Confira, abaixo, a entrevista completa com Flávio Benetti:
Sescon Campinas: Com o surgimento do Clubhouse e a popularidade dos podcasts entre os brasileiros, a ‘era do áudio’ parece estar se consolidando. Porque as empresas devem se atentar a essa nova era?
Flávio Benetti: O conteúdo via áudio já é um velho conhecido de todos nós. Prova disso é o rádio, que no Brasil, existe desde 1922 e sobrevive muito bem aos tempos atuais.
Sem dúvidas, com a pandemia e a necessidade de isolamento social, o formato ganhou importância e os podcasts voltaram com muita força – talvez, o período pelo qual estamos passando seja um dos mais importantes para este modelo.
E, para ajudar a popularizar de vez os áudios, o Clubhouse virou o “queridinho” das celebridades e empreendedores do Vale do Silício, arrebanhando milhões de novos usuários e decretando uma nova era, a ‘era do áudio’.
Por isso, as empresas que não estiverem atentas a esta nova era podem perder uma oportunidade valiosa de estarem próximas de seus consumidores.
Sescon Campinas: Como as empresas podem tirar proveito dessa nova demanda por áudio?
Flávio Benetti: Diante deste cenário promissor, marcas e empresas precisam começar a apostar nesse segmento para se aproximar de seus consumidores, criando um espaço para compartilhar conteúdos, conversas e reflexões utilizando um formato acessível e inclusivo.
Mas é importante destacar que os áudios devem se conectar com o restante da estratégia de marketing das empresas, criando uma percepção única por parte do público. Por isso, antes de entrar de vez nessa nova era, os profissionais e empreendedores precisam entender se este tipo de formato faz sentido para os seus clientes.
Sescon Campinas: O áudio se transformou em uma importante ferramenta do marketing digital. Quais as estratégias que os empresários podem utilizar na inserção dessas ferramentas em sua comunicação?
Flávio Benetti: No marketing digital costumamos dizer que o conteúdo é fator crítico de sucesso para qualquer estratégia. Pela sua característica inclusiva, os áudios são ótimas ferramentas de comunicação para as empresas, afinal auxiliam as pessoas que tem dificuldades com a leitura, aproximam a audiência das marcas, permitem o consumo das informações de forma simultânea com outras atividades e, claro, deixam os conteúdos muito mais humanizados. Dentre as principais estratégias com áudios, destaco os posts em áudio (quando se transforma um post de um blog, por exemplo, em um áudio, que fica disponível na mesma página do conteúdo escrito), podcasts, audiogramas (áudios que acompanham imagens estáticas compartilhadas nas redes sociais) e home speakers (que são os assistentes domésticos comercializados, em sua grande maioria, pela Amazon, Google e Apple – que permitem a inserção de conteúdos exclusivos de marcas).
Sescon Campinas: Falando especificamente sobre o Clubhouse, como as empresas podem utilizar essa nova ferramenta para melhorar a sua comunicação?
Flávio Benetti: O Clubhouse ainda é um mundo novo, pouco explorado. Por ser um app, ainda em fase Beta, que impede a gravação das conversas trocadas, as empresas e usuários que estão por lá oferecem uma infinidade de salas de bate-papo ou clubes, organizados em diferentes assuntos, que vão desde networking até relacionamentos.
O que tem atraído cada vez mais pessoas é a possibilidade de encontrar áudios por nicho, de forma simples e instantânea. Essas facilidades aproximaram as pessoas a partir de interesses comuns, principalmente neste período de isolamento social. Ou seja, para as empresas, é uma excelente oportunidade para criar/reforçar a sua autoridade sobre determinado tema dentro da plataforma.
A era do áudio, tangibilizada pelo Clubhouse, deve continuar atraindo muitos fãs. Ainda mais, depois que o app for liberado para todos os sistemas operacionais de celulares. Mas, como tudo na vida tem dois lados, a preocupação com conteúdos falados já é pauta do ponto de vista da moderação, afinal, diferente dos conteúdos escritos, que podem ser monitorados por bots, os áudios precisam de eventuais ajuda humana para evitar conteúdos ilegais.