Por: Cláudia Carnevalli
Quase dois séculos após, centenas de operárias serem queimadas vidas, por policiais em uma fábrica têxtil de Nova York (EUA), em 1857, porque haviam parado a produção para reivindicar direitos como a redução da jornada de trabalho e à licença-maternidade, ainda há muito o que se fazer para diminuir a desigualdade entre os gêneros dentro e fora do mercado de trabalho. A data trágica, deu origem anos mais tarde ao Dia Internacional da Mulher, comemorado em 08 de março.
Os tempos mudaram, mas a voz daquelas operárias não podem ser esquecidas, muitas são as desigualdades de gêneros sofridas pelas mulheres em pleno século 21. O estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) de 2018 – Perspectivas Sociais e de Emprego no Mundo: Tendências para Mulheres 2018 – faz uma análise mundial e mostra que as mulheres são menos propensas a participar do mercado de trabalho do que os homens e têm mais chances de estarem desempregadas na maior parte dos países do mundo. Fora as questões salariais, historicamente maiores para o sexo masculino.
O relatório revela, que a taxa global de participação das mulheres na força de trabalho ficou em 48,5% em 2018, 26,5 pontos percentuais abaixo da taxa dos homens. Já a taxa de desemprego global das mulheres em 2018 ficou em 6%, aproximadamente 0,8 ponto percentual maior do que a taxa dos homens.
“Apesar dos avanços conquistados e dos compromissos assumidos para continuar progredindo, as perspectivas das mulheres no mundo do trabalho ainda estão longe de ser iguais às dos homens”, disse a diretora-geral adjunta de políticas da OIT, Deborah Greenfield.
A diretora reforça que é necessário reverter essa “tendência persistente e inaceitável” por meio de políticas adaptadas às mulheres, sem se esquecer que elas também enfrentam demandas desiguais em relação as responsabilidades domésticas e aos cuidados de outros membros da família.
Mercado Informal e cargos de liderança
O relatório revelou que quando o assunto é o mercado informal de trabalho, as mulheres são maioria, estando expostas a não serem remuneradas corretamente ou terem acesso as leis trabalhistas. Nos países em desenvolvimento 42% dos empregados informais são mulheres.
O estudo indica que no mundo todo, quatro vezes mais homens estão trabalhando como empregadores do que mulheres em 2018. A desigualdade de gênero também é percebida em cargos de gestão, para elas é mais difícil acessar estes postos em comparação aos homens.
Educação
De alguma maneira ou outra toda a sociedade, homens e mulheres contribuem para fortalecer a desigualdade entre os gêneros e o machismo, essas questões fazem parte da cultura e são passados de geração em geração sem que percebamos. Assim como os autores do estudo da OIT, a presidente da Reprolatina Margarita Díaz, ONG localizada em Campinas, que trabalha pela defesa dos direitos sexuais e reprodutivos, defende, que somente a educação pode mudar esse cenário.
“A igualdade de gênero significa direitos e oportunidades iguais para homens e mulheres, isso é tão importante que o objetivo número cinco do Desenvolvimento Sustentável da Organização da Nações Unidas (ONU), definido por 150 países, tem como meta a igualdade de gênero – dizendo que até 2030 os países têm que realizar ações pra alcançar essa meta de igualdade e direitos de oportunidades entre os gêneros,” diz Margarita.
Para ela, é preciso educar homens e mulheres e mais. “Temos que fazer diferente, precisamos de uma educação em que haja o empoderamento das mulheres e meninas, para que estas possam a começar se ver de uma maneira diferente,” finaliza.